Em um solar de algum dia
Cheiinho de alma e valia,
Foi ali
Que ao gosto de olhos a vi
Como dantes inda vasto
Agora
Não tinha pombas nem mel.
E à opulência de outrora,
Esmoronado e já gasto,
Pedia mãos de alvenel.
Foi ali
Que ao gosto de olhos a vi.
O seu chapéu, que trazia
Do calor contra as ardências,
Era o que a pena daria
Num certo sabor e arrimo
Com jeitos de circunferências
A morrer todas no cimo.
Davam-lhe franco nos ombros
As pontas do lenço branco:
E sem que ninguém as ouça,
Eram palavras da moça
Com a voz alta de chamar;
Palavras feitas em gesto,
Igualzinho e manifesto,
Como um relance de olhar.
E bela, fechada em gosto,
Fazia o seu rosto dela
A gente mestre de amar.
Foi num solar de algum dia,
Cheiinho de alma e valia,
Que eu disse de mim para ela
Por este falar assim:
Vem, meu amor!
E os dois iremos juntos pelos montes;
E o Sol abençoará, nosso tesoiro,
A seara, o pão da terra, o trigo loiro,
E como nós hão-de falar as fontes.
Vem, meu amor!
E terás os meus cantos, o que eu valho;
Vem: serás do meu sangue e meu suor!
Dê-me beijos e graça o teu amor
E encherás de ternura o meu trabalho.
Vem, meu amor!
E o fim do nosso dia, o sol poente,
Sem más obras na mente e coração,
Há-de sorrir à nossa casa, à gente.
Vem, meu amor!
Vem como o Sol doirado quando brilha
De juntinho da terra e em devoção
Ele a beija e fecunda à maravilha.
Afonso Duarte