29.6.12

Coimbra Mais

pedroflaviano
Câmara Reabre Infantário
O Jardim de Infância n.º 1 de Coimbra, na Solum, vai reabrir e regressar à rede pública do ensino pré-escolar, em Setembro próximo, depois de denunciado publicamente o anterior presidente da câmara, Carlos Encarnação, que cedera aquele infantário à Fundação Bissaya Barreto, sem concurso público, quando era membro de um órgão social desta entidade privada.
Barbosa de Melo, o actual presidente da câmara, justificou a reabertura do infantário pelo facto de haver "uma enorme procura de jardins de infância e uma capacidade de resposta muito reduzida".
Esta afirmação contraria totalmente o pressuposto em que assentou o contrato de comodato assinado por Carlos Encarnação e pela presidente da Fundação Bissaya Barreto, Patrícia Viegas Nascimento:"ao nível da pré-primária, já existe, naquele local, uma cobertura de 100%".
Tal pressuposto, que não era suportado por qualquer documento idóneo, abriu caminho ao encerramento do infantário e à transferência das suas turmas para outro centro escolar.
Com esta decisão ficaram sem colocação 83 das 99 crianças ali matriculadas. Para o próximo ano lectivo há 115 inscrições e a reabertura do infantário, que não tem capacidade de resposta para esta procura, garantirá lugar a algumas dezenas de crianças.

28.6.12

Fernando Meireles



Em tempos idos, em Portugal, e em especial em Trás-os-Montes, tocava-se um instrumento, denominado sanfona, que praticamente desapareceu sem deixar rasto. Referido em várias obras bibliográficas e presente na memória de alguns, é hoje novamente usada pelo grupo “Realejo”, de Coimbra, após ter sido retomada a sua fabricação por Fernando Meireles, elemento do referido grupo. Este artífice é o único em Portugal a construir sanfonas e, embora na vizinha Galiza haja outros, o certo é que, devido à qualidade que Fernando Meireles imprime aos seus trabalhos, a quase totalidade das suas encomendas vem precisamente daquela região espanhola.

"Fernando Meireles é um artista e um artesão da mais fina sensibilidade com oficina de violaria posta na cidade de Coimbra (edifício da Associação Académica, instalações da TAUC) desde a década de 1980. Em constante diálogo com construtores e tocadores que regularmente lhe batem à porta, Meireles é sobretudo um sôfrego auto-didacta que tudo tenta experimentar, desde os segredos das madeiras, à invenção de delicadas ferramentas, às gomas e polimentos, aos embutidos manufacturados.
Estudou, construiu e divulgou como ninguém a Sanfona, um instrumento medieval muito popular na Europa, que também se tocava nas ruas de Coimbra. Tem fabricado com elevada qualidade o Cavaquinho, instrumento que está na génese do seu trabalho como construtor. Outra das suas coroas de glória é um Bandolim artesanal, com rosácea na boca e sonoridade excepcional, cujo modelo se acha definido pelo menos desde 2002.
Da Viola Toeira nem vale a pena falar. Não se conhece em Portugal quem a fabrique com mais mimo, delicadeza, fidelidade aos modelos ancestrais e perfeccionismo requintado. Em geral, as produções Meireles apresentam acabamentos muito perfeitos e de grande requinte. Como construtor da Guitarra de Coimbra, Meireles está na linha da frente dos melhores fabricantes. Há tocadores de nomeada que preferem mesmo as guitarras da Oficina Meireles às da Oficina Grácio.
A Oficina de Fernando Meireles não é apenas uma sala comprida com um banco de carpintaria, muita ferramenta e velhos cordofones pendentes das paredes. É uma escola de vida, um recanto ecológico e apaziguador das iras do quotidiano, um local de tertúlia onde o artesão recebe de portas francas.
Não raro, Meireles recebe e vai conversando com os visitantes (quase todos eles admiradores da sua arte) enquanto trabalha. No meio da conversa pode tocar um pouco de sanfona ou de cavaquinho. Numa das vezes que passei na sua oficina fizemos uma brincadeira simpática, eu com uns acordes numa Viola Toeira do Manuel Louzã Henriques e o Meireles no Cavaquinho.
Os preços não são para todos os bolsos, mas a elevadíssima qualidade de Meireles paga-se (isto nada tem a ver com violeiros que, com pouca arte e muita banha da cobra fabricam instrumentos de qualidade duvidosa não se inibindo de praticar preços escandalosos!).
A obra de Meireles tem merecido justa divulgação, inclusive no canal Odisseia da TV Cabo, não sendo demais as palavras que possam alargar o conhecimento público da sua arte."

AMNunes

26.6.12

Fogueiras de S. João



Com a devida vénia, transcreve-se um artigo de Eduardo Proença-Mamede, publicado hoje no Diário de Coimbra. Transporta-nos para a realidade da música e das tradições populares de Coimbra de há, pelos menos, cinquenta anos atrás. Interessante, uma referência à Fonte de S. João, na Arregaça, que não é mais nem menos do que a nossa Fonte do Castanheiro.
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Fogueiras de S. João
De todas as festas e festejos populares do passado, Coimbra era famosa pelas suas Fogueiras de S. João. Santo António, nascido como Fernão de Bulhões em Lisboa, mesmo de fronte da velha Sé, tinha o seu expoente máximo na capital. O S. Pedro comemora-se, em regra, em terras à beira mar. Hoje, o São João é quase um apanágio do Porto, onde o alho-pôrro e as gambiarras-balões lançadas no ar marcaram a diferença e mantiveram a tradição.
A partir da época liberal, com a paz e uma certa prosperidade reinante no país, as tradições populares retomaram um novo fôlego e um novo ânimo. Coimbra, pátria do Padre José Maurício, autor de tanta modinha publicada na década de 1790, no célebre “Jornal das Modinhas”, terra que viu nascer José António Carlos Seixas, filho do organista da Sé Velha, não ficou atrás na composição de músicas populares que os ranchos cantavam noite fora até romarem em grupo à fonte de S. João, para os lados da Arregaça. César Magliano e o maestro José Elyseu (morador na Sé Velha e de uma família de artistas em todos os campos!) são os últimos de uma longa série de que ainda não foi feita história. Esperemos que a exposição de “Os Salatinas”, que estará patente na Casa da Cultura, em Outubro próximo, relembrará mais nomes que se evidenciaram.
Há hoje a tendência grosseira e estúpida de apartar a música e determinar que o Fado-Canção de Coimbra é dos estudantes e não do Povo Coimbrão, como se a música fosse apanágio de uma qualquer corporação ou classe social. Nada de mais errado! No passado, as capas e batinas misturavam-se com os xailes de tricanas e nos pavilhões que se erguiam para o São João, tanto subiam estudantes como futricas para cantar fados e canções para dançar, tanto o futrica organizava uma serenata à sua amada, como um qualquer estudante pinga-amor. O poeta Camilo Pessanha e Afonso Costa, político da 1.ª República, eram produtos de ligações sem casamento entre tricanas e estudantes!
No século XIX e XX, os estudantes chegavam a Coimbra bastante novos e, quando muito, os instrumentos que tinham aprendido era o piano ou o bandolim. A célebre família Paredes, do qual o mais conhecido foi Carlos Paredes eram bengaleiros das Escadas de Quebra-Costas, que também consertavam guarda-chuvas. Nas barbearias eram os barbeiros que tangiam guitarras e violas de modo exímio e eram eles que não só ensinavam aos estudantes, como os acompanhavam nas serenatas que pretendiam fazer. Basta recordar José Fonseca (o famoso Zé Trego!) ou Flávio Rodrigues, já memorado em várias manifestações. Numa casa de média e baixa burguesia Coimbrã era frequente um irmão tocar viola e uma irmã bandolim, quando não era o próprio elemento feminino que tangia a guitarra enquanto o irmão ou irmãos cantavam. Assim era a tradição!
As festas de São João tinham ainda mais esplendor e brilho quando reunidas nos anos pares com as Festas da Rainha Santa, como é o caso este ano. Chegavam a vir romeiros de Penacova e de Soure para Coimbra pelo São João e, sendo o tempo de feição, acamparem em tendas improvisadas nos areais do Mondego (quando os havia!) e só abalarem depois da procissão de domingo para as suas terras. São João e Rainha Santa, a santificada D.ª Isabel de Aragão desde 1516, cumpriam assim o milagre de reunir mais pessoas que qualquer comício político dos nossos dias e, sem dúvida, eram motivo de muito maior interesse que discursos fátuos ou um rol de mentiras gritados ao povo por gente cujos escrúpulos deixa muito a desejar.
E é melhor ficar por aqui. A devoção e o respeito pela Santa Rainha, que casou aos 13 anos em Trancoso com o Rei de Portugal, merece mesmo o silêncio e a meditação que lhe são devidas.

Eduardo Proença-Mamede

23.6.12

Podentes

pedroflaviano
Vinalia 2012
Sabor de Podentes

Uma forma única e original de dar a conhecer os segredos do vinho e toda a arte em seu redor é como se caracteriza a Vinalia – Sabor de Podentes, que decorrerá no domingo (dia 24), nesta freguesia do concelho de Penela.
Esta iniciativa tem como principal objectivo a promoção dos vinhos Terra de Sicó e realiza-se em Podentes e Alfafar, onde a produção vinícola é preponderante, pretendendo, também, constituir um momento de transmissão do conhecimento das melhores técnicas de vitivinicultura, através da realização de acções teóricas e práticas centradas no vinho e nos seus processos de produção nas IV Jornadas Práticas de Vitivinicultura.
Aproveitando as potencialidades do bioturismo enquanto actividade que pode acrescentar valor ao sector vitivinícola, a Vinalia tem associado o Mercado da Agricultura Familiar e Tradicional com produtos agrícolas, queijo Rabaçal, vinho Terras de Sicó, azeite Sicó, mel, nozes e artesanato, assim como ateliers de pintura ao vivo.
A 4.ª edição da Vinalia é promovida pela Câmara Municipal de Penela, em colaboração com a Junta de Freguesia de Podentes e a Vinisicó.
Programa
08h00 - 1.º Encontro de Motorizadas de Alfafar
10h00 - Abertura do Mercado de Agricultura Familiar e Tradicional
10h15 - IV Jornadas Práticas de Vitivinicultura (Associação Cultural e Recreativa de Podentes), com moderação de Luís Reis, presidente da Vinisicó - Associação de Viticultores da Adsicó. Intervenções de Isabel Magalhães, da direcção regional de Agricultura e Pescas do Centro; Projecto InovWine - Inovação na Vinha e no Vinho; André Melo, Genomics Unit – Biocant; Enquadramento legislativo de produtos vinícolas alternativos ao vinho, Ricardo Noronha, enólogo; Enrelvamento nas vinhas e o seu contributo para a preservação da biodiversidade, Nuno Vilela – Sinargiae/Ambiente; Encerramento das Jornadas por António Alves, presidente da Câmara Municipal de Penela.

22.6.12

António Requixa

pedroflaviano

A homenagem de Marinela St. Aubyn

    "A voz de um destes excelentes cantores, António Requixa, também um prestigiado médico urologista, não voltará a ouvir-se. Morreu ontem num brutal acidente no IC8. Os meus sentimentos à família e ao Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra."
.


21.6.12

Vento


Vento,
vem até mim,
escuta a voz de um coração
onde só resta a saudade,
entende o meu sofrimento,
escuta com atenção
e vai,
por piedade de mim.

Vai pelos montes, vai sem palavra,
vai pelas planícies, também,
mas vai num momento
e leva,
leva o meu amor que lavra
e entrega-o depois a quem
por mim suspirar, oh vento.

Vai e sê meu amigo,
vôa sempre, sempre, sempre ...
ah, se pudesse ir contigo ...

Jorge Dias
Coimbra 1966

12.6.12

Anunciação















Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.

Miguel Torga

5.6.12

Rua Larga



1980 - Castelo de S. Jorge
Pedro Ramalho, acompanhado pelas guitarras de Francisco Vasconcelos, Frias Gonçalves, Carlos Couceiro, e pelas violas de Ferreira Alves e Carlos Figueiredo
.

Rua Larga é uma saudade
De tempos idos, distantes
Balada da mocidade
Dos antigos estudantes

P'ra recordar essa rua

De tanta saudade minha
Coimbra só nos deixaste
A nossa capa velhinha

4.6.12

A Minha Hora


Aldeias de Portugal 

A MINHA HORA

Que horas são? O meu relógio está parado,
Há quanto tempo!...
Qu...
e pena o meu relógio estar parado
E eu não poder marcar esta hora extraordinária!
Hora em que o sonho ascende, lento, muito lento,
Hora som de violino a expirar... Hora vária,
Hora sombra alongada de convento...

Hora feita de nostalgia
Dos degredados...
Hora dos abandonados
E dos que o tédio abate sem cessar...
Hora dos que nunca tiveram alegria,
Hora dos que cismam noite e dia,
Hora dos que morrem sem amar...

Hora em que os doentes de corpo e alma,
Pedem ao Senhor para os sarar...
Hora de febre e de calma,
Hora em que morre o sol e nasce o luar...
Hora em que os pinheiros pela encosta acima,
São monges a rezar...

Hora irmã da caridade
Que dá remédio aos que o não têm...
Hora saudade...
Hora dos Pedro Sem...
Hora dos que choram por não ter vivido,
Hora dos que vivem a chorar alguém...

Hora dos que têm um sonho águia mas... ai!
Águia sem asas para voar...
Hora dos que não têm mãe nem pai
E dos que não têm um berço p'ra embalar...
Hora dos que passam por este mundo,
De olhos fechados, a sonhar...

Hora de sonhos... A minha hora
- 'Stertor's de sol, vagidos de luar -
Mas... ai! a lua lá vem agora...
- Senhora lua, minha senhora,
Mais um minuto para a minha hora,
Mais um minuto para sonhar...

Poema: Saúl Dias (1902 - 1983)
Foto: Rui Pires

2.6.12

União de Coimbra

flaviano
Noventa e Três Anos
Naquela segunda-feira do dia dois de Junho do ano de mil novecentos e dezanove, ainda não se tinham dissipado completamente os fumos dos canhões que fizeram a primeira guerra mundial, quando a Tríplice Entente anunciava às forças derrotadas as condições que estabelecia para a paz. É nesse dia que um grupo de jovens desportistas da nossa Cidade, filhos do povo laborioso, se reunia no Largo de Sansão e fundava o União de Coimbra.
Daí, até aos nossos dias, no decurso destes noventa e três anos, tem sido esta nobre agremiação quem, em Coimbra, mais próxima se encontra daqueles que, distantes dos favores da fortuna e do poder, se acham no legítimo direito de usufruir, como os demais, do gozo dos prazeres e dos benefícios da actividade física, pela prática desportiva, boa conselheira de uma vida saudável e distante dos vícios da sociedade.
O União de Coimbra, no decurso da sua longa existência, foi confrontado com as mais variadas convulsões de natureza política, social e económica que a sociedade foi oferecendo e que estoicamente superou com o esforço e dedicação dos seus apaixonados sócios e simpatizantes. Mas, nem a todos os ataques foi possível resistir mantendo um nível aceitável da sua representação desportiva e uma superior dignidade, correspondentes aos fundamentos da sua criação.
Foi perseguido e amputado dos seus direitos, mesmo por aqueles que tinham o dever da sua preservação. Por mero exemplo, destaca-se o caso da atribuição da sala do bingo, em Coimbra, pela vergonhosa parcialidade do governante de então, Nandim de Carvalho. O Estado, neste caso, precisou de vinte anos para vir dar razão ao União, quando já não havia condições para a exploração daquela actividade. Estima-se que esta “manobra”, para além dos prejuízos de natureza desportiva, terá lesado o Clube em mais de quatro milhões de euros.
Nem o nome que escolheu na sua fundação escapou à importunidade do poder que, em 1946, decretou que este Clube deixaria de se chamar União Futebol Coimbra Clube e seria obrigado a designar-se por Clube de Futebol União de Coimbra.
O União de Coimbra, durante a sua longa existência, prestou à Cidade relevantes serviços que ajudaram à sua afirmação e nunca colheu favores nem réditos que correspondam a uma justa reciprocidade.
A passagem deste aniversário encontra o União de Coimbra numa situação de grande debilidade. A asfixiante situação financeira a que chegou, há alguns anos atrás, conduziu este Clube a uma enorme degradação, visível sobretudo no definhamento do seu eclectismo desportivo e também na sua despatriciada administração.
É tempo de unir as vontades, retomar a normalidade administrativa e encontrar os caminhos mais adequados à regeneração desta instituição, ainda que isso tenha que passar pela criação de outro ente-jurídico que aglutine o mesmo corpo social.
Mãos à obra!
Viva o União de Coimbra! 

Pedro Martins