Em tempos idos, em Portugal, e em especial em Trás-os-Montes, tocava-se um instrumento, denominado sanfona, que praticamente desapareceu sem deixar rasto. Referido em várias obras bibliográficas e presente na memória de alguns, é hoje novamente usada pelo grupo “Realejo”, de Coimbra, após ter sido retomada a sua fabricação por Fernando Meireles, elemento do referido grupo. Este artífice é o único em Portugal a construir sanfonas e, embora na vizinha Galiza haja outros, o certo é que, devido à qualidade que Fernando Meireles imprime aos seus trabalhos, a quase totalidade das suas encomendas vem precisamente daquela região espanhola.
"Fernando Meireles é um artista e um artesão da mais fina sensibilidade com oficina de violaria posta na cidade de Coimbra (edifício da Associação Académica, instalações da TAUC) desde a década de 1980. Em constante diálogo com construtores e tocadores que regularmente lhe batem à porta, Meireles é sobretudo um sôfrego auto-didacta que tudo tenta experimentar, desde os segredos das madeiras, à invenção de delicadas ferramentas, às gomas e polimentos, aos embutidos manufacturados.
Estudou, construiu e divulgou como ninguém a Sanfona, um instrumento medieval muito popular na Europa, que também se tocava nas ruas de Coimbra. Tem fabricado com elevada qualidade o Cavaquinho, instrumento que está na génese do seu trabalho como construtor. Outra das suas coroas de glória é um Bandolim artesanal, com rosácea na boca e sonoridade excepcional, cujo modelo se acha definido pelo menos desde 2002.
Da Viola Toeira nem vale a pena falar. Não se conhece em Portugal quem a fabrique com mais mimo, delicadeza, fidelidade aos modelos ancestrais e perfeccionismo requintado. Em geral, as produções Meireles apresentam acabamentos muito perfeitos e de grande requinte. Como construtor da Guitarra de Coimbra, Meireles está na linha da frente dos melhores fabricantes. Há tocadores de nomeada que preferem mesmo as guitarras da Oficina Meireles às da Oficina Grácio.
A Oficina de Fernando Meireles não é apenas uma sala comprida com um banco de carpintaria, muita ferramenta e velhos cordofones pendentes das paredes. É uma escola de vida, um recanto ecológico e apaziguador das iras do quotidiano, um local de tertúlia onde o artesão recebe de portas francas.
Não raro, Meireles recebe e vai conversando com os visitantes (quase todos eles admiradores da sua arte) enquanto trabalha. No meio da conversa pode tocar um pouco de sanfona ou de cavaquinho. Numa das vezes que passei na sua oficina fizemos uma brincadeira simpática, eu com uns acordes numa Viola Toeira do Manuel Louzã Henriques e o Meireles no Cavaquinho.
Os preços não são para todos os bolsos, mas a elevadíssima qualidade de Meireles paga-se (isto nada tem a ver com violeiros que, com pouca arte e muita banha da cobra fabricam instrumentos de qualidade duvidosa não se inibindo de praticar preços escandalosos!).
A obra de Meireles tem merecido justa divulgação, inclusive no canal Odisseia da TV Cabo, não sendo demais as palavras que possam alargar o conhecimento público da sua arte."
AMNunes