Entre as muitas “vítimas” das demolições da Velha Alta de Coimbra, uma das mais simbólicas e lamentadas, foi a Leitaria Académica, mais conhecida pelo nome do seu fundador e proprietário (Joaquim Inácio), Joaquim “Pirata”.
O “Pirata”, figura sempre lembrada pelos estudantes que passaram por Coimbra nas décadas de 1920 a 1950, tinha o seu estabelecimento na desaparecida Rua Larga, a fazer esquina para a Rua de S. João.
A origem da alcunha do seu proprietário é desconhecida, mas era este o nome por que era conhecido esse homem, uma figura muito peculiar, sempre envergando um impecável casaco branco.
Na relação do “Pirata” com os seus clientes havia uma particularidade que se revelou como estratégia de negócio bem sucedida. O cliente entrava, consumia, mas não era obrigado a pagar a pronto. No entanto, tinha de deixar o seu nome num dos grandes livros que existiam em cima do balcão. Estes livros eram conhecidos por “canis”, derivado da expressão “ferrar o cão”. Este processo conquistou a simpatia da sua clientela, predominantemente estudante, que frequentava a casa. O “Pirata” sabia que, mais cedo ou mais tarde, as dívidas iam ser saldadas. Muitas vezes, o antigo estudante que ferrava o cão, num rebate de consciência, lá regressava alguns anos depois do fim da sua licenciatura e, finalmente, o seu nome era riscado do livro. O pagamento desta dívida era motivo de celebrações, bem regadas, à porta do estabelecimento.
A Leitaria Académica, aberta desde 1923, tinha como distintivo um grande azulejo, afixado à entrada, com o símbolo da Associação Académica de Coimbra, criado pelo então jovem estudante Fernando Pimentel, no ano de 1927.
Em Maio de 1944, com o avanço das demolições, iniciadas no ano anterior para a construção da nova Cidade Universitária, o “Pirata” vê-se obrigado a encerrar as portas. Transferiu-se para a Rua dos Estudos, onde permaneceria até Outubro de 1949. Na sequência de nova demolição é obrigado a nova mudança, desta vez para um prédio situado junto aos Arcos do Jardim que também seria demolido em Outubro de 1959. A partir daqui, não mais se soube do paradeiro do espólio desta emblemática casa da Velha Alta de Coimbra.