AFONSO DUARTE
Joaquim Afonso Fernandes Duarte nasceu em Ereira, Montemor-o-Velho, no dia 1 de Janeiro de 1884.
Licenciado em Ciências Físico-Naturais, foi professor primário em Coimbra, tendo sido afastado dessas funções por se opor à ditadura de Salazar. É então que se dedica à sua obra poética e à investigação pedagógica.
Foi colaborador das revistas A Águia, A Rajada, Contemporânea, Presença, Seara Nova e Vértice.
Morreu em Coimbra a 5 de Março de 1958.
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Coimbra
Descem do Outeiro as casas da cidade
Como rebanho de ovelhinhas brancas
Que viessem com sede até ao rio.
E, coleante cobra, vai subindo a encosta
Íngreme, a estrada, entre surribos verdes:
É lá o Vale do Inferno onde demora
A curva do caminho, e dá descanso
Múrmura fonte: e donde Coimbra – cidade
É habitável sonho de poetas.
E desço aonde? Aos laranjais das ínsuas,
Às margens dos salgueiros e dos choupos:
“Líricas de Camões” dão-me vigílias,
“Amantes rouxinóis” modulam sonho.
Olha: o Jardim, a Mata, e o par de namorados
Que deslaçam as mãos das verdes heras
Que cobrem os frondosos troncos seculares
Já quando te aproximas! Oh! noivas idades
Que procuram recantos entre as árvores
E as águas que murmuram! Pois os risos
Lavam e as lágrimas enxugam.
Rio acima, para o alto içando as velas,
Lá vêm da Foz as barcas dos serranos
Ajudando-as da margem com as sirgas:
E, num adeus que fica para sempre,
Que lindas, quando as leva o braço e o vento!
Afonso Duarte