Luiz Goes que vivia há vários anos em Cascais, faleceu
hoje, em Mafra, numa unidade de cuidados paliativos onde se encontrava
internado, desde que o seu estado de saúde se agravou, em Maio último.
Filho de Luiz do Carmo Goes e Leopoldina da Soledade
Valente d'Eça Eleya Cabral de Sousa Pires, nasceu a 05 de Janeiro de 1933, em
Coimbra, no Calhabé, na rua dos Combatentes.
Da cidade do Mondego, Luiz Goes partiu para Lisboa, em
1959, pouco depois de terminar a licenciatura em Medicina e de casar.
A profissão de médico encantava-o pela vertente
humanista. Na opção pela Medicina e na paixão pelo fado é determinante a
influência exercida pelo tio Armando Goes, médico e extraordinário intérprete e
compositor da canção de Coimbra.
Nos tempos de infância, frequentou aulas de solfejo, no
Instituto de Música de Coimbra, com a professora Arminda Correia. No liceu,
chegou a formar grupo com António Portugal, José Afonso, José Dias (tio do
professor Amaral Dias) e Manuel da Costa Brás.
“A minha Coimbra não é só a dos estudantes, mas também a
do seu povo, da sua história, da universidade da vida. Bebi estes valores e
tenho sido, na vida como no fado, um produto disso mesmo” disse, em 2005, a uma
jornalista do Jornal Campeão, a propósito de ter vivido intensamente a vida
académica e a de futrica, os dois mundos que coabitavam na cidade do Mondego.
Nos tempos da faculdade, integrou o Orfeon Académico e o
Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, levando uma vida de
estudante, sem sobressaltos, mas com grande envolvimento na Academia.
O primeiro registo discográfico da sua carreira de cantor
e autor – que iniciou tardiamente – surgiu em 1953, com o acompanhamento
musical de António Portugal, António Pinho Brojo, Mário de Castro e Aurélio
Reis.
Quatro anos mais tarde, com o grupo “Coimbra Quintet”
grava em Madrid, no Teatro do Príncipe Real, um trabalho de referência na
história da música coimbrã.
No total, a sua discografia seria materializada em quatro
LPs, que gravou entre 1952 e 1983.
A reter, outra frase de Luiz Goes: “Sempre levei muito a
sério esta coisa de cantar. Ainda hoje não sei o que é divertir-me quando tenho
de cantar. Quando subo a um palco fico nervoso, não por medo mas porque levo o
canto muito a sério. Não é uma actividade gratuita, é uma responsabilidade. A
Canção de Coimbra é um bem cultural a ser preservado e respeitado”.
Membro Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, medalha
de Ouro da Cidade de Coimbra, medalha de Mérito Cultural do Município de
Cascais e sócio honorário do Orfeon Académico, entre outras muitas distinções,
Luiz Goes defendia que a Canção de Coimbra devia ser sempre, como o foi no
passado, “o retrato do tempo em que se vive, sem ferir a sua essência
intemporal”.