5.9.12

Monteiro Valente


Epitáfio para Monteiro Valente
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Parte um general quando o Outono já desce das colinas
Vieste, de regresso à liberdade, na torrente de águas novas que varreram a Pátria, em Abril [de 1974]. Tinhas apenas 30 anos! Abalas agora, de repente, num Setembro de fogo, o qual, bem vistas as coisas, deveria ser de colheitas promissoras para os milhões de compatriotas que sofrem, 38 anos depois.
Que força terrível te puxou assim, companheiro, para longe da terra da fraternidade, tão sonhada, quando os cravos se ergueram e as armas se calaram?
Chorarão por ti todos os que admiram a tua entrega ao saber, a tua rectidão e persistência, as incursões rigorosas na História contemporânea portuguesa. “Entre as brumas da memória” que quiseste preservar, como investigador e militar de Abril, mas, sobretudo, como cidadão.
Farás falta, antes de mais, aos teus mais queridos. A tua firmeza de princípios, jóia rara em tempos de ganância, esvai-se entre as garras da agiotagem. Ou talvez não.
Ficam os que te amam – e são muitos, estamos certos – para te honrarem a força e o vigor, sem nunca deixarem de te respeitar, fraternalmente, em cada gesto de homem íntegro, sobretudo agora, quando os humildes reclamam um pouco mais de luz para o Outono que já desce das colinas.
Casimiro Simões