2000 Anos de História
A cidade que hoje é Coimbra teve o seu primeiro núcleo de povoamento no cimo da colina da Alta. A posição estratégica e dominante para isso concorreu. Se não faltam conjecturas quanto à ocupação pré-histórica deste sítio privilegiado, é na época romana que começam as certezas. O povoado de Aeminium – nome romano de Coimbra – tornou-se uma cidade com seu centro vital no fórum, construído sobre larga plataforma apoiada em espectacular criptopórtico. O perímetro da urbe não seria muito grande, nem mesmo ocuparia a superfície que mais tarde as muralhas medievais vieram a definir.
As invasões bárbaras trouxeram a perturbação. Álamos, Suevos e Visigodos dominaram a cidade. Mas os Visigodos restabeleceram o equilíbrio e a prosperidade. Aeminium cresce de importância, torna-se capital regional e sede de bispado de Conímbriga.
A chegada dos Muçulmanos a Coimbra valorizou a região com a introdução de novas sementes, árvores, novos processos de cultura e de exploração do solo. Muitas terras dos arredores os recordam nos seus nomes: Alcarraques, Alcabideque, Almalaguês.
A reconquista cristã definitiva teve lugar em 1064, por Fernando Magno, rei de Leão. Coimbra torna-se a capital de um vasto condado cujo território se estende desde o Douro até à fronteira sarracena, tendo o mar como limite ocidental. O seu governo foi entregue ao moçarabe Sesnando, que praticou uma notável política de valorização económica e de povoamento.
Coimbra era uma cidade florescente quando o conde D. Henrique e a rainha D. Teresa dela fizeram a sua residência predilecta. A história de Coimbra é indissociável da de Portugal, sobretudo durante a primeira dinastia. Nesta cidade nasceram D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando. Aqui se gizaram os planos de grandes lutas nacionais.
Coimbra do românico e do gótico ergueu templos que permaneceram e são o orgulho da cidade – Sé Velha, Santiago, S. Salvador, Santa Clara a Velha.
O século XVI trouxe a Coimbra a instalação definitiva dos Estudos Gerais, ponto de partida de grandes transformações. A par da instituição oficial, inúmeros colégios universitários se fundaram na cidade, a expensas das diversas ordens religiosas, para alojarem os seus membros que aqui vinham em busca do saber e dos graus académicos. A sua obra capital foi a abertura da Rua da Sofia, a mais nobre e de maior renome em Portugal até ao século XVIII, ainda hoje uma das melhores artérias de Coimbra. Sofia significava saber, ciência, e de facto aí se concentrou grande número de colégios.
Os burgos vizinhos de Celas e Santa Clara, que se haviam formado à sombra dos mosteiros, desenvolveram-se também. Este surto de novas ruas e construções, na cidade, foi acompanhado por uma substancial alteração da sua demografia. Dos 5200 habitantes no ano de 1527, passou-se para 10.000 em 1570. O aumento não se deve apenas aos estudantes vindos para a cidade mas, igualmente, a todo um conjunto novo de pessoas ocupadas na prestação de serviços necessários à permanência de mestres e alunos.
O rosto de Coimbra quinhentista irá manter-se com poucas alterações até finais do século XIX. Uma pequena excepção: as obras operadas pelo Marquês de Pombal que levaram ao desaparecimento do castelo, à criação do Jardim Botânico e rasgaram a praça que hoje tem o seu nome.
A extinção das ordens religiosas em 1834 em muito contribuiu também para alterar o viver citadino. Basta dizer que as casas religiosas, incluindo conventos, mosteiros e colégios das respectivas ordens, perfaziam em Coimbra o número de 33.
O desenvolvimento da pequena burguesia, o começo da industrialização, vão possibilitar o crescimento da cidade. Em 1867 inaugura-se o Mercado D. Pedro V. Inicia-se a urbanização da Quinta de Santa Cruz cujo fundo do vale se viu transformado, a partir de 1889, na mais larga e bela das vias da nova Coimbra, a Avenida Sá da Bandeira. Ao cimo, planeou-se a grande Praça de D. Luís, agora Praça da República, para onde se rasgaram ruas convergentes.
Neste século XX, Coimbra aí está, herdeira de um passado a que não pode voltar costas sob pena de deixar de ser ela própria, crescendo entre desequilíbrios nem sempre fáceis de resolver, por vezes à custa do sacrifício do seu património histórico.
A Alta, essa sofreu o mais rude golpe que uma cidade pode sofrer, a destruição quase completa, para se edificarem os novos edifícios universitários. Foi como se os bombardeamentos da segunda guerra mundial se tivessem abatido sobre Coimbra. As demolições iniciaram-se em 1943 e em lugar das ruas cheias de história, vida, tradição e poesia, ergueram-se as novas faculdades.
O burgo de Santa Clara é outro pólo de desenvolvimento, onde se estabelecem indústrias, desde finais do século XVIII. Santa Clara constituiu o primeiro núcleo de industrialização de Coimbra.
No presente, Coimbra expandiu-se, envolvendo no seu seio lugares dispersos da periferia. Sítios onde, não há muitos anos, eram terrenos de cultivo, povoados rurais, são hoje zonas urbanizadas: o Calhabé liga-se ao Tovim; a Quinta do Flaviano deu origem à Solum; a Quinta das Flores, a Quinta da Cheira, o Pinhal de Marrocos, a Portela e o Areeiro, fazem a sua entrada na cidade.